domingo, 30 de março de 2008

O diário de Heida

Bom, eu e Gina vamos começar a escrever em um blogue, a história de Haida (se pronuncia Heida vúh!) é como se fosse um diário, cheio de pseudônimos e nada pessoal, batido Alice no país das maravilhas com algumas bolinhas farmacêuticas. Quem quiser visitar clica na imagem abaixo, e abaixo dessa imagem tem o primeiro texto que eu postei lá...

A casa da Rua 4

Morava ele ali, acompanhado de seus livros e animais selvagens, era a única coisa que sabíamos do Homem da Rua 4.
O dia estava laranja, e eu mais laranja ainda, enquanto caminhava junto a Haida. Olhavam a casa, casa morta, como um pão criando mofo. Era difícil, nós imaginarmos como alguém conseguiria viver ali, trancafiado, vítima do tédio da monotonia solitária. Haida não conseguia solidão nem no choro.
Talvez o Homem havia se isolado porque alguém, aqui ,o machucou muito. Ou ele mesmo tomou uma queda enquanto tentava voar, como de praxe.
Haida e eu tratavam aquela casa como um outro mundo, criaramos o 'lá' e o 'aqui'. Ninguém jamais soubera o que existia dentro daquela casa - - além de um homem solitário, livros, gatos, e um $ no jardim. Eu ia contando cada detalhe da casa da Rua 4, enquanto os olhos de Haida brilhavam, como uma criança na porta de uma bomboniere a ponto de devorar todos os doces, ela queria saber daquilo tudo.
- E esse símbolo de dinheiro no jardim? Perguntava ela olhando por entre as pequenas grades que davam oxigênio aquela casa.
- Na verdade é um ‘s’, ele se chama Silvio.
- O homem da casa da rua 4 se chama Silvio? Indagava Haida, com sua mania de transformar respostas em perguntas, como uma máquina precisando de códigos de confirmação. Era mais uma chance de ter certeza do que havia escutado, já que sempre foi enganada. Assim, criou este anticorpo. Fazendo com que cada pergunta fosse re-dirigida e confirmada por um ‘sim’ ou ‘não’... sim ou não, aqui e lá...
- Sim, ele se chama Silvio.
A luz laranja do sol, dava espaço para as luzes dos postes, também alaranjadas. Aquela casa não era suja. Apenas escura, o muro evitava a luz. Muros construídos para evitar toda ilusão que o Homem, homem que agora tinha um nome, passou aqui. Agora ele sofria só, ou apenas o que nos imaginávamos, enquanto observávamos daqui. Ninguém consegue viver feliz com barreiras, e o homem havia criado as suas próprias. De repente, do último quarto da casa, foi possível ver uma luz que se locomovia junto a uma sombra.
- Olha, ele esta acordado!
Estava frase soava como ‘olha, ele esta vivo’, foi o que eu li nos olhos de Haida. Vivo no seu mundo. Mundo limitado por quatro paredes. Ficamos alguns minutos ali na porta do Homem, imaginando como seria por dentro aquela casa de telhados japonês, como seria Silvio, como seria por dentro aquele homem. estávamos soprando vida dentro de uma casa morta, estávamos ganhado novas vidas, e adquirindo os mofos da casa.
Eu estava brilhando, procurando em cada interstício uma beleza para a solidão.
E Haida, inevitavelmente, havia vestido um pouco daquela casa. Estava fechada. Havia criado sem si, seu próprio mundo, com histórias onde os personagens tinham um pseudônimo, ‘O fantástico mundo de Haida’ era um corpo de 60 kg, pálido e cheio de cólera. Ninguém jamais soubera o que se passava por dentro dela, além de um coração e um estômago para engolir suas pílulas de sonho antinômico.