sábado, 21 de abril de 2012

onde encontrar a mansidão em um mar tão agitado?
                                 como encontrar mansidão em espaços
que só há imensidão?



ondas

segunda-feira, 9 de abril de 2012

acontecer

Quando estava saindo da Isla de la Toja, na Galiza, soube que há uma lenda em que se você faz um pedido ao atravessar a ponte para deixar a ilha, e se ficar sem respirar até chegar ao continente (o que de carro demora pouco menos de 60 segundos), seu desejo é realizado. Pouco fiel, mas muito encantado com a igreja e as vieiras da cidade, mentalizei e prendi minha respiração. Pedi pequeno, pois gosto de acreditar nessas lendas, no fundo, gosto que elas se tornem reais para mim. Gosto de acreditar no abstrato. Fiz um pedido que se cumprisse fácil, sem precisar do mundo. Pedi o outro lado da ponte. Pedi que o mundo rodasse. Pedi que não parasse de enxergar. Pedi 30 centavos. Pedi a comprovação da existência de Deus. Também pedi saúde, e essas coisas que gente de bom coração deseja. Pedi pequeno, fácil, porém misterioso. Começo a acreditar na ponte de la Toja, e espero até a próxima estação para meu pedido ser atendido. Não quero interferir no mundo, não posso pedir o e(x)terno.

o mendigo e a barriga

Para o adeus,

Era uma vez um mendigo. E como mendigo, não havia nada de especial na sua vida, além da fome, pobreza e solidão. O mendigo que eu falo, como tantos outros, habitava as ruas do centro de alguma cidade, e durante a noite lutava contra todos obstáculos em busca de um lugar quente para dormir.

O mendigo tinha fome. Sim. E mais do que isto, a sua fome era denunciada por sua barriga, que de minuto em minuto fazia ronc ronc para lembrar ao mendigo que estava vazia. Passaram muito tempo, e os dias do mendigo era sempre iguais. Enfrentava durante o dia a vida, e pela noite escutava as reclamações de sua barriga. Uma certa noite, o mendigo ouviu sua barriga dizer: Tenho fome. O mendigo achou que estava tendo alucinações, mas pela manhã ele percebeu que sua barriga havia mesmo aprendido a falar. A cada frase que escutava, a barriga do mendigo repetia, e não demorou muito para falar frases que duravam longo tempo.
O mendigo sentiu muita vergonha da sua barriga e procurou um local vazio da cidade onde pudesse ficar sem ninguém ouvir a sua barriga. Antes de dormir, a barriga deu vários conselhos ao mendigo e se desculpou por fazer ele sentir vergonha. Passaram toda noite conversando, falaram sobre a infância, sobre sonhos… até piadas contaram. Apesar de estarem muito famintos, a conversa parece que vez o mendigo, e a barriga, esquecerem que estavam vazios. A barriga prometeu ficar em silêncio sempre que o mendigo fosse ao centro procurar alguma comida. Em algumas semanas, a barriga e o mendigo eram os melhores amigos, sempre conversavam antes de dormir,o mendigo ensinava novas palavras pra barriga, e contavam suas dores, suas vontades… até mesmo piadas contavam. Foi em uma dessas conversas noturnas, depois de muito tempo, que a barriga, que tinha se tornado muito sábia, falou ao mendigo que uma barriga que fala não é comum. O mendigo concordou, mas não entendeu onde a barriga queria chegar com tal conversa. Então a barriga explicou que eles poderiam fazer espetáculos na rua, sim, a barriga até sabia algumas piadas, assim com o dinheiro o mendigo poderia alimentar-se.

Na manhã seguinte, o mendigo seguiu para uma das ruas mais movimentadas do centro, onde costumava pedir esmola, e anunciou para todos os pedestres a sua barriga falante. Logo chamou atenção de todos, que acharam incrível uma barriga que falava e contava piada, como é de se esperar. Foi um dia incrível. Na noite, o mendigo comprou várias comidas e riram um bocado, a barriga estava cansada do dia agitado e adormeceu primeiro que o mendigo. Ele tava feliz, demorou um pouco até dormir, pensando no espetáculo do dia seguinte.Passaram-se os dias, e a barriga e o mendigo tornaram-se famosos pela cidade, todos queriam ver de perto a barriga falante. Até foram convidado pela televisão para um programa de humor onde a barriga contaria piadas.
O mendigo ganhou uma casa, tinha dinheiro para se alimentar, enfim, era feliz.
Passaram-se os dias, saciou a fome.
E nunca mais sua barriga falou.