quarta-feira, 30 de abril de 2008

Depoimento pós-carnaval - Parte II *

* nem me pergunte pela parte I !

Foi daí que eu descobrir porque tudo se acaba em cinzas.
Uma louca ia apagando seu cigarro quando falava do manguezal.
- O mangue daqui é tão lindo... imagine ali depois daqueles 'matos' tudo é podre... tudo lama...
E eu, eu ia escutando tudo, tudo em sonoridades de marchinhas de carnaval. Parecia ter saído de frente de uma grande caixa de som, e todo zunido de uma alegria falsa ia me desgastando.
A compulsão de escrever cartas, de viver na sombra, eu estava me sentindo um Deus pintando toda aquela tela linda, em tons de verde. Até que alguém admirando toda aquela beleza, passa-se a mão na tela, a tela que ainda tava de tinta fresca.
O manguezal guardava todas as cicatrizes da noite anterior, era fim de carnaval.
Agora só restava garrafas e copos plásticos amassados nas águas da tela
O mangue daqui parece feio, essas sujeiras, os esgotos, 'ali depois daqueles matos' tudo é limpo, águas limpas.
Todo mundo conhecia eu-manguezal dali do cais, ninguém nunca chegou ao verde com medo da lama.
Era a hora de tirarmos nossas fantasias.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Uma carta ao número 08041990-0031

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Meu caro desconhecido,

Há muito tempo não te escrevo, mas é apenas porque hoje eu possuo quatro mãos, o que me atrapalha ao te escrever.
Hoje eu decidir usar meu verdadeiro nome, e te falar que sinto saudade de tua falso-presença enquanto conversava comigo e só. O que foi mais dícil para mim, foi aprender a escrever uma carta para duas pessoas. Mas minha preguiça e minha falta de usura, me ensinou a gastar duas folhas.
Naquele dia que eu enterrei o amor na praia, junto com meus amigos, 'o amor que era representado por uma pedra vermelha que pouco me importa o nome' ao lado de cinzas de cigarro, eu estava engando. Estava enterrando uma pessoa viva, o que fez de mim um fraco.
Amigo desconhecido, me sinto fraco ao ter que abrir aquele túmulo, mas foi inevitavél, ou impossivél. Aquele sol, e o rivotril que molhou minhas calças, me deixou uma criança, como você. Eu poderia brincar de fazer castelinhos na areia, antes de enterrar nela minha felicidade.
Desculpa te perguntar tantas coisas em minha carta, e nem te da o direito de resposta. Mas com você, eu queria falar só de mim. Desculpe meu egoísmo.
Dias atrás eu escrevi um texto, e gostaria muito que você pudesse ler.
Queria poder te contar todas minhas mudanças, o acréscimo de alguns anos me amadureceu e levou algumas lembranças. Parei de tratar as pessoas com metáforas ainda utilizando pseudônimos.
Te espero. Venha assitir A Noiva Cadavér, você vai adorar a morte representada por cores.


Abraços,
de seu amigo Junior.

domingo, 20 de abril de 2008

Espelhos



O hoje morre todos os dias, e ficamos no velório com o passado.
Morremos a cada dia, e choramos. Somos viúvos do ego de ontem.
Morremos à noite, e reencarnamos em um corpo conhecido, em um ambiente maleável.
É a saudade de algo já gasto, morto.
Não podemos viajar, nem voltar pra casa, é algo dissolvido na ampulheta. Areia passada entre as mãos.
Todo sentimento de um pai egoísta, que tenta ver no traço do rosto de seu filho, uma única semelhança.
Dos traços de um espelho, vamos tentando ressuscitar nossas vidas.
E nos cortamos com os cacos, porque cansamos do amor recíproco. E sofrer é mais divertido e inesquecível que amar.
Não lembramos quando não caímos, porque faltam cicatrizes.
Hoje fizeram um corte com o espelho. Um corte na face.
Hoje me deparei em frente há um papel riscado.
Hoje te darei uma folha em branco.
Nosso dias podem ser livros de colorir com nossas cores preferidas.
Mas acabamos borrando.
Hoje iremos chorar por nossa morte, antes de dormir.
É que imitamos os filmes, e criamos essa idéia de flashes memoriais antes de morrer.
Ao acordar, levantaremos flexíveis.
E olharemos no espelho, uma cicatriz em nosso rosto.
Boa noite, eu.

domingo, 13 de abril de 2008

Para hippies, blogueiros e afins...

Desculpe galerinha que odeia tomar banho, eu sei que é chato, mas é que vocês não tem uma namoradinha pra cheirar todo dia e dizer: 'Hmmm... que menino cheiroso'.

Desculpa também à pessoas que escrevem poeminhas de amor em blogues, ' é que vocês também não tem uma namoradinha pra trocar cartas'.

Desculpem os erros gramaticais e a falta de criatividade.
nossomosloucosDorilú

terça-feira, 1 de abril de 2008

Ali, debruçados.

Ele já era homem feito, em corpo de menino. Sentia vergonha e receio em se demonstrar inteligente na frente dela.
Debruçados na cama, ele com a cabeça na areia ao lado de uma fogueira quente, ela no travesseiro de sexo.
Eram diferentes, mas por isso estavam ali. Essa diferença que os excitavam e os atraiam. Ele ainda menino, com seu caderno escolar na mão, e atividades a preencher, parado na página 125. Cento e vinte e cinco.
Era engraçado, mas ele tinha um espírito de cientistas, e gostava de descobrir. Enquanto ela, ela se arrumava no espelho, como uma mulher, uma mulher feita.
Ainda continuavam ali, debruçados na cama. Sem belas melodias ou roupa da sorte tudo ia ocorrendo. Mas esse desarrumado deixava tudo perfeito. Um cheiro, um aperto e beijos, continuavam na inércia, fazendo movimentos retos e curvilíneos. Era um par de luvas esquentando mãos frias.
A música começava a ser tocada, a cada movimento. Uma orquestra. Um parque.
Porque na realidade, os opostos não se atraem, porque opostos são iguais. Gostavam de artes, das mesmas músicas, e de um milhão de coisas em comum. Mas eram tão diferentes.
Ela escutava a quilômetros, e ele, menino-homem, apenas a um quarteirão.
- Tá escutando?!
- O quê?
- O trem...
- Mas aqui passa trem é?
- Perto daqui, no final da cidade. Escuta...
Ambos, já não estavam mais ali. Já tinham pegado o trem. Em direção oposta. O desembarque de um, era o ponto de partida do outro. Mas ambos estavam juntos. O cheiro no cabelo, o suor na boca, o gosto dos olhos. Ele já havia partido, mas ela continuava a colocar sua xícara na mesa.
Ali, ainda debruçados, ele se levantava vestia sua calça, e guardava seu segredo entre calça e cueca, uma de suas manias. Levantava dali ele, homem já feito, ela, menina feliz.
É que haviam trocado, despercebidos, algumas roupas, e um se vestia do outro. Uma calça-xadrez apertada, uma blusa.
Era apenas a hora do menino voltar pra casa, e fazer sua barba. Já que havia perdido o trem, que nem ao menos poderia escutar.
Era a hora, dela, mulher-menina, voltar para o espelho e retocar seu batom, que usou em uma de suas fronhas de travesseiro.
Ambos foram fortes, mas ele foi desacompanhado ao portão.
-
- Te amo.
- Obrigado!
- Obrigado pelo quê?!
- Por me amar...
- Olhe menino... isso foi a coisa mais fria que eu já ouvi.
- Eu também, escutei em um desses filmes nacionais...
- E eu em uma dessas historinhas de conto de fada.

Piolho!

Piolho. Talvez esse seja o primeiro e único ser vivo que habitou a minha cabeça. Piolho, com pê maiúsculo. Coça sua cabeça só de pronunciar esta palavra, né?! P I O L H O. O que muitos não sabem, é que o Piolho é como as formigas – fazem buracos, chegam até o cérebro.
O Piolho é podre, mas é burguês... Só gosta de cabeças limpas. Piolho é podre, mas odeia gente podre, e meninos maus não tem piolho. Lembro que em 1996 tive piolhos, mas já estou grande e podre demais para ter piolhos. Mas pelo menos um, pelo menos um Piolho ainda permanece vivo em meu cérebro.

Limpa, limpa vassourinha :)

Lavagem do Bonfim. Lavagem cerebral. Lavagem semanal. Lavagem de dinheiro.
Lavagem doméstica, lavagem corporal, lavagem espiritual, lavagem de pratos, lavagem anal, Lavagem da Praça do Boxexo, lavagem de roupas, lavagem espanhola, Lavagem da Rua Nova, lavagem capilar, lavagem vaginal, lavagem dos alimentos, lavagem de automóveis. Lavagem. Lavagem.

Já viu porque a água esta acabando?!
E o mundo ainda continua sujo.

Atirei o pau no gatô-tô.

Às seis horas saia de casa, ao som de Ave Maria, e corria para o campo. Menino perverso. Subia nas árvores, e destruía o lindo coro das cigarras. Com uma linha, das costuras de sua avó, amarrava a cigarra ao meio. Essa era sua brincadeira preferida. A cigarra, assustada, andava em círculos sobre a cabeça do menino, terminava a brincadeira até ficar tonto, o menino ou a cigarra, que muitas vezes caia morta ao chão. Ás vezes, a brincadeira era interrompida por sua mãe, que mandava o menino entrar, porque o céu já não estava mais laranja.
Era Quaresma. E mesmo esse clima nostálgico e cristão, não fazia com que o menino parasse de deixá-las tontas. O mundo era um círculo, seus olhos eram uns círculos, e isso o deixava tonto. Nada de rebeldia sem causa, era malvado por natureza. Matar formigas, queimadas com borro de vela já não o satisfazia mais. A Cigarra foi seu prêmio. Péssimas cantoras, dizia ele, ainda temos que subir no alto pra apanhá-las. Você sabe como é difícil pegar uma cigarra e amarra-la? Você sabe como é difícil acompanhar todo seu movimento, em círculo, em volta de sua cabeça?! Deixa qualquer um tonto.
Amarrar cigarras, e mata-las, virou uma compulsão do menino. Quando voltava da escola, e tirava sua farda, o menino saia correndo pelo campo com uma linha na mão.
Subir. Pegar. Amarrar. Pronto! O resto do espetáculo era por conta da cigarra.
Isso se repetiu por inúmeras semanas.
Até que ele ficou tonto, e cansado de ver uma cigarra, idiota, andar em círculos em desespero. Com a mesma cara de decepcionado, quando percebeu quantas queimaduras teve no dedo, queimando caminho de formigas na parede da cozinha.
Agora ele queria um bicho muito maior, e mais difícil de machucar, um gato, um cachorro talvez. Mas homem não! Homem só basta palavrinhas para machucar, e isso era fácil demais para o menino.

Interstício 01

Nenhum corpo fica ligado totalmente ao outro. Existe sempre um espaço vago, no vácuo, sem sentimentos, sem cheiro. O vazio vai se demonstrando muito mais vago.
Nem nosso corpo é totalmente ligado a alma.
É capaz de se passar vida até na mão mais fechada.
Entre um texto e outro, existe aqui.
O interstício das letras.
Havia vida em cada entrelinha. Espera aê! Mas não era vazio?!