domingo, 20 de julho de 2014

abarco nos olhos a maré que esvazia
desce entre as ondas restos do manguezal
fecho-os
mantenho firme a areia na ampulheta de meus pés

rezo baixinho para brisa:
esquecer, esquecer, esquecer
até os lábios secarem com o sal

terça-feira, 8 de julho de 2014

tratos

o trator passa entre a plantação. No vazio que fica, catamos sementes que ferem nossos olhos. Por isso devemos manter fechados. Com um gesto desconcertado, entendemos que é preciso apagar a luz, esperar a noite, trazer outra cerveja, escrever correspondência, cozinhar. E todos os corpos vão se conhecendo através destes gestos tortos, profundos, úmidos e eretos.

Meio-dia nossas cabeças repousavam já no gramado seco. Alguém disse que parecia um quadro de Van Gogh. Não escondi o riso com a referência. Talvez esta memória seja apenas um livro de trezentos e oitenta e sete páginas, não muito difícil de encontrar em qualquer livraria, mas nunca um best-seller, que para um iniciante, pareça cansativo demais folheia-lo.

poderíamos juntar, tirar umas letras, esticar as palavras e ter um poema. Afinal, nem sempre o campo está para colheita, temos os dias de plantações e irrigação. Se por um lado, é só depois da fruta mordida que a semente cai ao chão... Esperar.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

longe

tenho pensado em abandonar as palavras, na mudez da língua que dobra sem som, para voltar ao meu verdadeiro estado.