sábado, 25 de dezembro de 2010

pequenas palavras de sabão.


O problema não é ler meus pensamentos secretos, o problema é entendê-los e tentar decifrá-los – tentar decifrar talvez seja o grande erro, pois meus textos não são jogos de palavras ou quadros de um livro bobo de psicanálise, já não entrega-se nem esconde-se. Não há signos.
Estão esquecendo que antes de ser humano eu escolhi ser artista. «Aqui destacando-se o sentido do impostor, do que interpreta» De modo que venho aprendendo usar as palavras assim como se usam as tintas e os roteiros.
Quando pequeno buscava por criar alfabetos secretos, cheio de símbolos, de modo que não entendessem o que havia ali escrito. Grande erro, como alguém que busca uma nova cor «inexistente», e ela perde-se por falta de brilho, por seu caráter fosco.
Assim, deixei-me aprender a usar as tintas prontas, a usar as palavras, o alfabeto, a me entregar a um mundo feito de modo que não pertencesse à ele. E a grande complexidade da arte, que então nem eu mesmo sabia: A arte não é um refúgio, é o grito seco da garganta que quer água pela noite e tem medo de levantar no escuro. Mas, sozinho em casa, é preciso encarar o caminho até seu objetivo.
A arte não é fuga, é dar a cara pra bater.
Acontece que as vezes não existem mãos que batam, nem mesmo que façam carícias.
Quando criei aquele alfabeto secreto, eram com medo dessas mãos inertes. Nunca tentei esconder-me «Não há espaço para esconderijos nas artes», a própria criação de uma linguagem era essa vontade de me expressar «contudo, nem sempre “revelar”».
Tinha medo das erradas interpretações das minhas palavras, por isso criava um mundo metafórico.
Mas não há erros, pois meu próprio mundo é uma interpretação particular anacrônica.
Por isso, ao meu grosso e frágil modo, continuo a escrever, a criar.

-
a fazer pequenas bolhas de sabão, que são tão efêmeras quanto nós mesmos. Mas nem por isso, deixa de mostrar sua beleza, sua transparência e suas cores que ressaltam quanto atingida por raios de luz.