quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Interstício 7

Não que minha memória seja o pequeno percurso de luz que neste instante invade um lado do quarto, mas é que nele me apego antes de sair. Fecham-se as janelas, já não mais os vejo. Antes havia aqui um reservatório de água, o pé de abacate que alguém cortou enquanto eu viajava, os latidos de um cachorro. Quando fecham a janela, para onde vai esta luz?
Se é a janela a saída para quem foge, ou a entrada de quem busca refúgio, porque a luz não fica aqui, junto comigo, quando fecham a janela?
Não que minha memória seja tão curta, um breve espaço, mas já não sei se lá fora o sol ainda continua a fazer desenhos na calçada. Pode ser noite. Sempre em frente, dois degraus à direita, é o paraíso. Assim um dos anjos me avisa o caminho para morte. Fecham-se as janelas, já não mais o vejo. Se sobrar coisas de mim, além destas palavras, dos rabiscos, essas ocuparão o breve tempo do percurso que a luz abandona o quarto para secar as roupas no varal.

sábado, 12 de novembro de 2011

Teus dedos, como compassos, faziam semicírculos no ar, preenchendo o grande vazio do céu sem estrelas com uma dança estranha das mãos.

Sem música, o único som que seguia a louca coreografia era teu riso. Aos poucos, o meu.
Depois aquele silêncio necessário.

Eu queria, ao menos, escrever um poema por dia.
Mesmo poemas escritos no ar –  como fazem os teus dedos.