sexta-feira, 29 de outubro de 2010

De um lado algófilos


Ela me disse, sem me ver, que chorar não resolve nada.
Pois estava certa.
Chorar é luxo de artista. É o que move o drama, o drama e a arte.
As artes são lágrimas de grandes chorões, que vem ao mundo procurar consolos e abraços. serem entendidos, colo de mãe.
Que escorrem aos olhos, no pódio ou na cama sozinho.

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Dos olhos para fora escorre uma lágrima. Durma bem. Isto não é tristeza, não merece uma lágrima. Isto é saudade. E saudade é o grande suspense da alegria, do reencontrar-se. Do lembrar que tem alguém que pensa em ti sempre. Durma bem. E antes de deitar, reze baixinho:


Que toda tristeza que nascer em mim,
morra tranquila no silêncio da noite,
morra esmagada por meu grande sorriso onírico.
Amém.

Interstício 1250

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De grão em grão nada se move.
É necessário o preencher instantâneo,
para que não tenha o vazio,
a fome,
a solidão.

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O peso da história.

(ou Uma história quase concreta)

Há poucos dias eu contei a história do mundo que virou pedra.
Foi uma história espontânea, única, perdida num escuro insosso e parada no silêncio do sono. Quando acabei de contar quase virei uma pedra. Meu deus, porque somos tão pesados?
Minha cabeça agora é uma das pedras sem cor. Mas pedras são eternas - se isto me confortasse...
Atrevo-me futuramente escrever tal história aqui, ou parte dela que se tornou concreta, como as pedras.
E este mundo tão grande, neste eterno desenrolar de horas, será que o que eu conto não é uma, de todo o conjunto, das verdades?
Meu deus! Que minha imaginação jamais faça parte deste mundo. Que eu saiba seguir o imaginário, sem que ele me siga.
Hoje, antes de dormir, contarei para mim o desfecho da história, pois histórias precisam de finais para serem eternas.
Precisam ser pedras.