terça-feira, 30 de agosto de 2011

diálogo entre vaga-lumes

aqui dentro está cheio. (silêncio) . aqui dentro está - é - frio. lá fora também está. vou ligar o aquecedor. mas a energia pode cair. vai ser pior: escuro e frio. então está é a máquina do tempo? . (risos) . este escuro é da idade média. foda-se. é poético. (silêncio) . à luz de vela. deus é mais! vela me lembra morte. deus é mais. (silêncio) . vela lembra-me - é - aniversário. parabéns. (risos) . a luz voltou. fez o pedido?

tas a abandonar as letras maiúsculas? . é só por uma questão estética. achas bonito? . acho bonitinho, tudo na mesma medida. então utilizas só as maiúsculas, ora. (risos) . mas assim parecem formigas. formigas são pequenas, mas são perigosas. eu já me acostumei. (silêncio) . não acredito que vais escrever deus também com letra minúscula. pensei que fosses ateu. é só por uma questão de estética. (risos) . DEUS.

olha só, agora isto parece uma sigla no meio do texto. pronto, talvez agora tenha sentido. sim, um tanto poético. foram formigas que ganharam asas e uma luz. a luz voltou. fez o pedido?

tem dias que sei que vai chover - ou faltar energia, e como as formigas, eu preparo tudo para o período da chuva.


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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

tu es un garçon fort

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Estava a escrever em uma viagem enquanto uma mulher olhava atentamente à cada movimento da minha mão. Ela não entendia o que eu escrevia (não falávamos a mesma língua - Também se entendesse ficaria encabulada de descobrir que agora falo dela).

Mas ela ME entendia. E éramos cúmplices do mesmo crime. É isto que é escrever. A necessidade de se expressar transcende a própria mensagem. Ela não sabia o que eu escrevia, apenas que eu escrevia. Antes de deixar o trem, ela sorriu para mim como quem diz: Você é um rapaz forte. Fica bem.

Eu retribuí com o mesmo sorriso. E voltei a escrever…

gênesis



Diário das folhas amarelas,

Volto a escrever aqui por tua causa. Não me aconteceu nada de especial que eu possa compartilhar.
Mas é que tuas folhas amarelas lembram-me tanto o meu amor. Sabia que ela quem te fez?
É, como uma deusa, e no sétimo dia você estava pronto.
Cortou folhinha por folhinha com todo carinho.
Por isso só escrevo coisas boas aqui. Só cabe o amor. Nunca exprimi minha raiva nestas páginas. Dói-me. Não posso destruir algo feito com tanto amor.
Sinto tanto a Falta… Mas tanto, que começo a confundir as lembranças com os sonhos. Outro dia lembrei dela em um carro colocando as mãos para fora, enquanto o vento dançava entre seus dedos, e depois ela, timidamente sensual, colocava o corpo, da cintura para cima, para fora do veículo como se quisesse apanhar algo no céu, como alguém que experimenta a liberdade… Como se quisesse apanhar mais estrelas amarelas para fazer folhas onde conto meus sonhos.
Era alto. Mas ela alcançava.
E eu sempre a sigo.
Pois sei que tudo seria diferente sem ela.
Sei que ela me ver como o maior dos seres já criados por ela própria. E isto me faz bem. Pois é só com ela que me torno grande, que alcanço estrelas…
Outro dia, naquele silêncio noturno onde surgem pensamentos sem razão, tentei imaginar o passado, antes de a conhecer… E se fosse tudo diferente?... É doloroso. Não posso imaginar. Houve o big-bang, houveram os deuses, houve o sétimo dia e então aconteceu. Aconteceu. E agradeço. E valorizo. E amo. E escrevo. E existem as folhas amarelas e muitas histórias…