sábado, 25 de dezembro de 2010

pequenas palavras de sabão.


O problema não é ler meus pensamentos secretos, o problema é entendê-los e tentar decifrá-los – tentar decifrar talvez seja o grande erro, pois meus textos não são jogos de palavras ou quadros de um livro bobo de psicanálise, já não entrega-se nem esconde-se. Não há signos.
Estão esquecendo que antes de ser humano eu escolhi ser artista. «Aqui destacando-se o sentido do impostor, do que interpreta» De modo que venho aprendendo usar as palavras assim como se usam as tintas e os roteiros.
Quando pequeno buscava por criar alfabetos secretos, cheio de símbolos, de modo que não entendessem o que havia ali escrito. Grande erro, como alguém que busca uma nova cor «inexistente», e ela perde-se por falta de brilho, por seu caráter fosco.
Assim, deixei-me aprender a usar as tintas prontas, a usar as palavras, o alfabeto, a me entregar a um mundo feito de modo que não pertencesse à ele. E a grande complexidade da arte, que então nem eu mesmo sabia: A arte não é um refúgio, é o grito seco da garganta que quer água pela noite e tem medo de levantar no escuro. Mas, sozinho em casa, é preciso encarar o caminho até seu objetivo.
A arte não é fuga, é dar a cara pra bater.
Acontece que as vezes não existem mãos que batam, nem mesmo que façam carícias.
Quando criei aquele alfabeto secreto, eram com medo dessas mãos inertes. Nunca tentei esconder-me «Não há espaço para esconderijos nas artes», a própria criação de uma linguagem era essa vontade de me expressar «contudo, nem sempre “revelar”».
Tinha medo das erradas interpretações das minhas palavras, por isso criava um mundo metafórico.
Mas não há erros, pois meu próprio mundo é uma interpretação particular anacrônica.
Por isso, ao meu grosso e frágil modo, continuo a escrever, a criar.

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a fazer pequenas bolhas de sabão, que são tão efêmeras quanto nós mesmos. Mas nem por isso, deixa de mostrar sua beleza, sua transparência e suas cores que ressaltam quanto atingida por raios de luz.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

«explosão»



Abro a página da web.
Ainda em miniatura, vejo fichas de uma biblioteca. Ficha de empréstimo. Zoom. E em meio aqueles nomes «explosão» Meu nome. Reconheço minha letra, tão torta, datada há pouco mais de um ano atrás. Manoel Lord... 26/08/09.
Meu deus! Um ano atrás. O que é um ano?
O que passava por minha cabeça enquanto assinava, meu nome, naquela ficha de empréstimo do tal livro?!

«EXPLOSÃO»
Acordar com o sol me fazendo sair da cama, em meio a correria, pegar ônibus lotado.
Seguir em frente, acompanhando a cidade - enquanto ela deixava-me caminhar, ou quando ficava preso junto com ela em grandes congestionamentos à beira mar.
Atravessar a cidade, que para mim era tão grande. Era o mundo. A ladeira, a árvore, reconheço o ponto. parar.
E ali, naquelas ruas, que os homens ainda dividiam com os pombos, e que o sol aos poucos ia atravessando, era do Campo Grande, em direção à uma rua que parecia sem saída - e era -, da viela, que todo dia eu entrava em um casarão antigo, rosa, rosa e tão verde, de verde-grama, e tão dourado, e tão tintas, de cor, de arte, que eu me direcionava todo dia.
Estudar arte, dizia eu. Eu, e os eus, dos eus que quase tão nós, ainda que por vezes se excluindo, dirigiam-se todas as manhãs para a Avenida Araújo Pinho, pro casarão, que na frente tinha a vênus, a vênus de milo, a "tia" do acarajé, os hippies, que sobreviveram ao Wood Stock, e estavam lá, atrás de vender seus trabalhos, e tantos loucos que eram adotados por aquela casa, que outrora já foi hospício...
E ainda no meio daquela massa criativa, ainda ressuscitamos os que nunca morreram, que estão nos livros de história das artes. Estes livros, que ficam lá no fundo do casarão, em um prédio cinza-colorido, cavernas de Lascaux. E eu, encantando tanto pelas palavras e por tantas imagens, seguia o ritual de empréstimos da biblioteca. Título / Autor. Ficha. ficha. Assina aqui, e tem uma semana em tua mão. (Meu deus! Uma semana, o que é uma semana?!)
E foi de lá que eu conheci a Frida, o Egon Schiele, o meu amor, tantos amigos...
Eu, eles, eles e um bando de nós, que em meio ao perigo, resolvemos acreditar nas artes. E a arte sempre foi tão onírica."E as artes nunca deram conforto, nem dinheiro, nem nunca encheram a barriga.” Sim, mas enchiam nossas bocas. E talvez seja esta fome que a arte proporciona, que torna-nos tão fortes e sensíveis, que faz seguir em busca dos alimentos. E, como esfomeados, vamos em busca. Em busca do quê mesmo, meu deus?
E continuávamos. Nossos sonhos. Nossas artes. Nossos projetos. Nossa vida. Em meio aos vinhos, aos devaneios, aos segredos compartilhados em conversas tão artísticas, que por ora tornavam-se telas tão surreais. Era uma religião secreta, sem deuses - ou vários deles, que tinham o dom da criação, do Apocalipse. A prece de infiéis diante do mundo sobrenatural que é a arte. Magia. Era a escola de bruxos. Que iriam morrer em fogueiras. Suicídio coletivo.

Pois. Tantas mudanças, e eu agora continuo do lado de cá, buscando.
E continuamos.
Buscando o quê, meu deus?!




A ficha da biblioteca veio como uma lágrima de saudade, de um tempo tão feliz. Não, um tempo não. Um lugar. Pois ainda é este tempo.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

De um lado algófilos


Ela me disse, sem me ver, que chorar não resolve nada.
Pois estava certa.
Chorar é luxo de artista. É o que move o drama, o drama e a arte.
As artes são lágrimas de grandes chorões, que vem ao mundo procurar consolos e abraços. serem entendidos, colo de mãe.
Que escorrem aos olhos, no pódio ou na cama sozinho.

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Dos olhos para fora escorre uma lágrima. Durma bem. Isto não é tristeza, não merece uma lágrima. Isto é saudade. E saudade é o grande suspense da alegria, do reencontrar-se. Do lembrar que tem alguém que pensa em ti sempre. Durma bem. E antes de deitar, reze baixinho:


Que toda tristeza que nascer em mim,
morra tranquila no silêncio da noite,
morra esmagada por meu grande sorriso onírico.
Amém.

Interstício 1250

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De grão em grão nada se move.
É necessário o preencher instantâneo,
para que não tenha o vazio,
a fome,
a solidão.

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O peso da história.

(ou Uma história quase concreta)

Há poucos dias eu contei a história do mundo que virou pedra.
Foi uma história espontânea, única, perdida num escuro insosso e parada no silêncio do sono. Quando acabei de contar quase virei uma pedra. Meu deus, porque somos tão pesados?
Minha cabeça agora é uma das pedras sem cor. Mas pedras são eternas - se isto me confortasse...
Atrevo-me futuramente escrever tal história aqui, ou parte dela que se tornou concreta, como as pedras.
E este mundo tão grande, neste eterno desenrolar de horas, será que o que eu conto não é uma, de todo o conjunto, das verdades?
Meu deus! Que minha imaginação jamais faça parte deste mundo. Que eu saiba seguir o imaginário, sem que ele me siga.
Hoje, antes de dormir, contarei para mim o desfecho da história, pois histórias precisam de finais para serem eternas.
Precisam ser pedras.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Grandes viagens.

Tem um de mim que ainda não partiu... Que continua sentando no vão de embarque, sonhando com a grande viagem.
É assim que sempre fui. Desde menino, a expectativa pelo jogar-se era sempre maior e mais longa que o próprio passeio. Para mim, a viagem começa no arrumar das malas, é quando estamos mais presentes no destino. Ainda não existe o lá-aqui, nem a saudade, apenas o grande suspense onírico do arrancar de motores.
Aprendi a viver com além-lá, o sempre-aqui. Aqui ao lado, no vão de embarque...
Sempre pronto a viajar.

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segunda-feira, 12 de julho de 2010

folhas.

Para não dizer que não fotografei as àrvores.



E assim registrar:

  • que de algum modo ainda olhamos para o céu;
  • que mesmo os galhos mais frágeis e desprotegidos ainda continuam firmes no inverno;
  • que o tempo meteorológico ainda é a melhor metáfora para se falar de sentimentos.

terça-feira, 6 de julho de 2010

_fuga

Hoje acordei com vontade de fumar e escrever. De fato ambos nunca me perteceram, nunca os soube tragar, a nicotina e a palavra nunca habitaram meu corpo - se não por um alguns minutos. Sempre me entreguei aos rémedios sem bula, como se de algum modo eles pudessem curar a ferida mais profunda tão rapidamente e sem dor.
E mesmo que tão incompleto, arriscar-se em um campo desconhecido é seguro e confortável. Então, sem preocupação com os erros, acendi, traguei e os primeiros versos tortos me fizeram tossir.
Sei que de nenhum modo esses pequenos rituais caberiam em mim.
Até o anoitecer a última partícula de nicotina perderia-se no vento,
a útlima palavra esmagada perderia-se no meu sono.
E novos dias viriam, novas vontades, as mesmas dores e a grande sensação estrangeira de poder fugir.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

'abstraia-se'

sábado, 29 de maio de 2010

pequenas descoberta nº 3504


Quando meu irmão foi voar, a primeira coisa que pedi a ele foi um pedaço de nuvem.
Ele voltou, sem nada nas mãos, e me disse: 'Em cima das nuvens, existem outras nuvens... parece não ter fim.'
O infinito sempre foi grande em mim, mas sabia que além daqui, além de lá, além do tempo e das nuvens, tudo me pertenceria para sempre.
A chuva só veio como um aviso.
Corri para a rua e deixei ela habitar meu corpo. Pois eu sei que a chuva são pedaços de nuvens que tocam na Terra, pedaços do eterno que habitam em nós.
E a eternidade, que tanto amedrontava, hoje é serena, hoje faz parte de mim além daqui, além de lá, além dos tempos e das nuvens.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Interstício 3_ ou OFTAMOLOVE.

Dizem que os olhos são espelhos da alma. Tenho miopia, roubaram meu óculos - e a cada dia que passa enxergo bem menos.

Uma vez mostrei minha alma e não conseguiram entender.
Agora fecho os olhos quando timidamente meu coração acelera - não quero que nada escape.
Meu único contanto com o exterior é o tato.
Não sei se é arriscar demais andar de cabeça baixa, se esbarrar infantilmente. Mas conto com você, quando ando no escuro - conto com seus olhos, pois os meus são sensíveis. Só espero que me guie, aperte minhas mãos, é o que tenho para oferecer. sinta-me.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Experimento 12311

sobre o medo, a dor e a garganta seca.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

enviar-se

Meu caro desconhecido (se ainda assim posso te chamar),

Escrevo desta vez para falar de mim - é que quando te vi caminhando sozinho nesta cidade, que parece te jogar contra todo cinza, contrastando com a vibração das cores de teus defeitos, pude ver um raio de sol que atravessava teu cabelo, ressaltando um laranja, que para mim eram apenas minhas lembranças.
Parece que as poças d'agua, ainda nas ruas, servem para nos lembrar do passado, do ontem. E em meio ao gradiente que me apresentaram, pareço que ainda eu sou o estranho. Os meus olhos já não dizem nada e as palavras são perdidas por outras. Conheço-me muito menos que ti, não sei me expressar, senão por borrões de nanquim - que depois dou vida com aquarela.
Espero te encontrar e me perder mais um pouco.


J. Lordello

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Interstício 08_ # de nº 20


O desejo que se faz quando apaga-se a vela, é que ela se mantenha acesa até o próximo sopro.
E no caos da eternidade, os símbolos vão se perdendo - as velas vão sendo trocadas. Até uma próxima chama.
E entre os dias, fico perdido na contagem.
Mas um ciclo dado _ o eterno.

Feliz aniversário, dia 8.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Carel

Mais on nerico
di la cormi um pas
De la melsoa jogare
Pertentembir onle su par

Que end catem
Ole, ole maes ser cas
Conde oen mare seguer
Contempular onle sur mar

Mondre seunde lus
o nelma contem nelos, cas
Embade mae mare halm
Cutimir onde sur gar

Bo me onds cheiries, onds vestenda la lus... me la onle por liarte, onds vireids la csus.
Creniante soir mamete ti que vi.
Pelmor dilti, lo me surti alt invers.

domingo, 28 de março de 2010

Dentro.


Por fora eram completamente iguais. A vista de suas janelas eram a mesma, só mudava a direção.
Enquanto ela era acordada pelo os primeiros raios do sol, ele o via se pôr sobre o mar.
E assim, ainda dentro de suas casas, trocavam nos olhos uma mensagem pra janela vizinha - verdades compartilhadas. Mas, ainda protegidos pelas paredes e grades, se sentiam seguros.
Quando não queriam ir pra chuva, ou para o mar, ficavam como uma fotografia, sem idade, sendo enquadradas em um espaço vazio, preso em um caixote sem cor.
Por vezes, sentiam ainda pingos, vindos da brisa ou de nuvens negras, que carinhosamente atingiam suas faces - como um beijo ou um tiro, que quebravam vidros e não respeitavam leis físicas. Fechavam os olhos. E estavam completamente livres. Dentro de seus mundos, observavam tantos universos - lá fora, como uma criança que espera atenciosamente por estrelas cadentes.

Qual o tamanho de um mundo? O que se cabe em uma janela? O que se passa lá fora, quando ainda estamos dentro?

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

pequenas descobertas nº 3536_

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pra quem conheceu o balanço do mar,
a Terra parece muito parada.



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lovelovelove'

quando seus pés se encontraram, ele soube que estavam no mesmo caminho.
não há mais dúvidas, nem medo.
quando se pode caminhar juntos.

dobrar-se II _ ou redobrar-se

Meu caro desconhecido,

Hoje te reencontrei, da última vez que te vi você parecia tão triste, café frio. Fico feliz por te ver assim, em meio aos amigos, divertindo-se. Espero que tudo isso seja eterno, nunca esqueça deste cair de tarde. Sabia que você sorrindo muda completamente?
É . Até seus olhos brilham seguindo o sol. Queria tanto te conhecer, mas tenho medo. Você é tão cheio. Obrigado por estar feliz.

J.l.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

quanto ao tempo.

Me sinto mais vunerável.
O tempo sempre me ensinou a atacar.
O objetivo de ser forte me deixou sem defesas.

já perdi diversas vezes.
já me perdi diversas vezes…