sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Good Weed

E quando as formigas recebem asas e não abandonam seu formigueiro?
E quando Maomé chega a montanha?
E quando o milagre corre no meu sangue vinhoso, como água?
E quando as equações matemáticas resultam sempre em um valor?
qual é a resposta?
qual música deve ser tocada?
que livro você esta lendo?

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Alpondra #3


Eis o Pecado Original.
Aceita um pedaço?


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Alpondra #2

Alpondra#1

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

C.L

Porque há direito ao grito, então eu mio.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

The doors


Eu sou daqueles, como Tim Maia, que acredita que toda grande obra vem da tragédia. Isso justifica minha falta de postagem aqui.
Estou num momento onde a tristeza e os problemas nem se resumem a pedras no meu caminho. Me divirto com todo teatro dramático pseudo-virtual crtl+f humano, e ser uma estrela como Charlie Chaplin não é para todos. E com o meu silêncio é que eu venho respondendo.
Ontem eu vivi um grande Déjà-vu, não desses que quando você fala 'eu já vi isso' tudo para, foi uma sequência! Dos meus pensamentos mais loucos; Essa sensação era que realmente eu já havia passado por aqui, vim do futuro para desfazer alguma ação que mudaria minha vida toda, hoje, não sei. Creio que consegui... isso é bobagem.

Do meu último texto, apenas um verso incompleto. 'Qualquer coisa maior que teu mundo que caiba em meus olhos.'.Como a miopia.



P.s: Ainda continuo comendo pizza para escrever, pois as drogas que abrem a porta da percepção fecham várias outras.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Nascimento do amor.



Foi no contato das mãos,
que o amor ia nascendo no menino.
Era a primeira vez, e a inexperiência com os sentimentos fazia que seus olhos falassem.
Dali, nascia as cores, a repartição.
Agora já era um homem, por dentro.


segunda-feira, 4 de agosto de 2008

- Refrão.

.

As vozes iam secando as gargantas, e lentamente cifras soltas molhavam toda sede.
Vozes velhas, vozes novas. Sem idade.
Parecia uma oração.
E era.
Era a seita para deusa alegria.
Era o samba nos quadris,
e a bossa nova combinando com as roupas.



Porque o poeta sabia rimar vida com felicidade. E o povo aplaudia aquela poesia em versos brancos.

domingo, 29 de junho de 2008

Comunhão matemática.

Então Deus multiplicou o pão.
O pão multiplicou o homem.
O homem multiplicou o Deus.



Mulher Vitruviana

Nas mãos de um alfaiate, sem medidas - uma mulher despia toda sua verdade.
Coração maior que o cérebro.
Boca do tamanho dos olhos e maior que o ouvido.
Olhos, espelhos, do tamanho da boca, brilhante na mesma sintonia da sedução.
Pés, quadril, nariz... as medidas ia dando forma à uma nova roupa.
Vestida, do tecido mais fino e transparante, ia deixando transparecer seu corpo, sua alma.
Uma mulher medida, sem medidas exatas.

Alpondra #2

-Sintomas? Vide bula.


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Alpondra #1

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Sex and plastic.



Para toda penitência, existe um pecado.
E hoje ninguém mais sabe orar.
Vou acender uma vela, até você derreter.
Então você vem para mim,
como uma boneca, uma boneca de plástico.
E eu me entrego de vez a poesia,
e teu sexo me faz renascer.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Lunes et Soleil

Do seu colo saia um deserto, das mãos da artista mais um filho.
A mulher, que agora me vigiava, vivia em uma escala amarela. De grandes olhos, a artista modelava o pincel sobre uma tela em branco. De olhos grandes, ela seguia meus passos ao abrir a porta.
Além de arte. Era criar uma deusa. Uma deusa de nariz afinados, a deusa da estrela maior.
Era uma deusa afinada. Tocava cornetas, e falava francês.
De vestidos decotados, e meteoros no cabelo, ela começara a me vigiar.
Não sei porque, sempre tive a impressão de que ela me observava ao sair do banho.
Olhar malicioso, olhar de deusa, de deusa que ainda era criança e desconhecia o pecado. Mas era também da noite.
Era uma deusa, semi-.
Assitia novela, e usava batom.
Corria pelo universo, fazendo estrelas caírem de seu vestido brilhante e brega.
Não era princesa, e não perdia sapatinhos em escadas, era maior.
Pregada em uma tela na galáxia, sobre meu sofá.
Sem cabelos penteados e de batom borrado, era apenas os traços de uma artista.
Apenas uma taça de sobremesa de maracujá e chocolate.
Para mim, uma deusa. Uma deusa de olhos curiosos.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Vem cá,

sonho de um sonho se realiza?!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Herança

De meu pai; eu quero a rebeldia dos jovens de 70, o cabelo, a voz, a força, e o dom de um bom matemático enquanto desenhava seus projetos. Também quero os vinis de Roberto Carlos e Raul Seixas, que ele escutava todas as manhãs.

De minha mãe; o dom artístico e a criatividade - é tão delicado o jeito que ela meche com arte, o nariz, a pele, o cheiro, a paciência e as respostas espontâneas - a sutileza. Também quero os romances que ela guarda e alguns cd's.

Aqui

Me deixe aqui, neste bar, tomando conhaque, porque eu sei, que mas tarde estarei em outra esquina provando vinho.

E eu sei que você precisa de mim; pra enxugar os copos e secar as lágrimas, trocar a mesa e a música.
E faz tempo que abandonei a cama laranja, que você mesmo descascou.
Não bate a porta, e nem chore...
Porque eu vou ficar aqui, até que aqui acabe.
E eu cultivo bonsai, não sei quando é o fim.



Eu aprendi a regar meu jardim só, mas preciso de alguém para aparar as gramas,
eu preciso de alguém que me ajude nas rimas enigmáticas,
e que peça o menu ao garçon.
Eu preciso ficar só, em uma salada.
Vou morrer e viver e viver aqui.

Nem só de pão

A garota me disse:
Que amor deve ser alimentado.
Não vai faltar comida
em tua panela,
Porque hoje vou te alimentar
Estou de dando amor
Estou te dando amor
Estou te dando amor
Eu vou

De barriga cheia,
ela vinha em minha direção
Declamando uma canção em meu ouvido que falava de amor
Não se canse
Não vomite
Durma comigo essa noite,
após o jantar.



______
[ironia] se tivesse em inglês não daria uma ótima canção? [/ironia]

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Sonho número oito.


Ele estava dormindo, e acabava de sonhar que sua alma saia do seu corpo, pairando sobre sua cama... Atravessou o seu telhado. Ele poderia fazer tudo, entrar na casa que quisesse e viajar pra mais longe que fosse. Estava mais distante. Foi quando resolveu voltar, e entrar em seu quarto para observa-lo dormindo, coisa que ele julgou incapaz de acontecer, puxou uma cadeira, e acordou com uma zoada de um móvel ao lado de sua cama.

domingo, 25 de maio de 2008

Release 24 de maio.


Segurar o sol.
Não é fácil... é quente e pesado. Mas é excitante e gostoso, a luz forte nos envolve, e brincamos com aquela bola de fogo.
Até que cansamos.
E o sol caí, se põe, e fica em pedaços pelo chão.
Cacos de vidros brilhantes.
Chega a noite.


24 de maio. É como se eu tivesse ido 'do céu ao inferno' em frações de segundos. Após derrubar o sol no chão, tive que apoiar a lua, e dessa vez sem mãos que me ajudasse.
Entre tanto fala-fala, encontro e reencontro das almas expressa por músicas e ditados.
Era a saudade morta em abraços e feridas.
Era o fim, a despedida, o adeus.

Brincamos com o o sol, porque não brincávamos com o amor.
Na volta, me falaram sobre a metáfora, inventada na hora, do livro.
- 'Já era hora de dar um ponto parágrafo ou fecha-ló?'
- 'Você pode fechar o livro, e escrever outro com o mesmo título'
Mas era o medo de fechar o livro e manchar tudo com a tinta ainda fresca.
Era a saudade.
Era uma criança tentando escrever.
E escrevi, sem medo de errar.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

199.

Eu gostaria de reclamar porque sapo se chama sapo, e não se chama escrilás.

Aproveitando o espaço, e o tema, gostaria de reclamar sobre os animais que do feminino para o masculino mudam bruscamente. Vaca e boi (passará a se chamar vaco)? Casal 20 poxa.
Cavalo&cavala, Galinha&Galinho... também tá incluído nesse meio o homem e a mulher, mas ainda não sei do que chamar.

Sobre nomeação de animais também, gostaria de reclamar sobre esses animais que só existe um nome para chamar o macho e a fêmea.
Peixe namora com peixa, Tubarão com Tubaroa, Barata com Barato...
Nada de dizer mais que a aranha tava fudendo com a aranha, isso pega mal pô! Aranha&Aranho.

éissoaídorilú.

1º livro machista escrito a lápis!

Em breve, na oficina mais próxima da sua casa.

Só me tira uma dúvida, é 'a' com crase, sem crase, ou tanto faz?!

Alpondra #1


eu tomei rivotril com Maria depressiva.


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alpondra:
de a + poldras s. f.,
pedras de passagem de uma para outra margem de um ribeiro ou rio;
poldras.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Ler?

Me lembro que quando mais novo, eu e alguns amigos roubamos um diário de uma menina da nossa classe. Iriamos chantagear a garota para receber dinheiro em troca... mas isso não vem ao caso... o caso é que eu percebi: Por que as pessoas sentem a necessidade de escrever?!
Naquele diário, que era muito pessoal, a menina escreveu tudo com uma caligrafia impecavél e todo dirigido à um suposto leitor... mas já que era pessoal, por que ela escrevia assim?
Passamos dias folheando aquele diário, dando risadas das estórias da menina, liamos como um livro... ela escreveu seus segredos, seus sentimentos, sobre suas experiências sexuais (o que achamos um absurdo para uma garota de 14 anos.... de nossa idade... mas enfim, dizem que as meninas amadurecem mais rápido, e morre também... hahaha.).
Aquela agenda-livro-diário acabava no dia 28 de setembro, o mesmo dia em que a tal fez a perna pela primeira vez (fonte: diário), também me lembro que ela já quis matar toda à sua família, bolou planos e tudo, e que o 'Dia do Fico' para ela tinha sido dia 23 de Junho, porque ficou com mais de cinco em uma festa (o que era segredo, até então...)
O final da estória é que não tinha final. Acho que ela concluiria aquele livro no dia 31 de dezembro, talvez com um 'Vivi feliz para sempre' ou sei lá! Pelo menos eu me senti muito mal depois de ler... é que odeio assistir filme ou ler livros pela metade.
Algumas semanas depois, a menina comprou um diário novo, acho que ela começou pelo dia 29 de setembro... 'Querido Diário, alguns meninos idiotas roubaram meu outro diário... droga.... crianças!... mas hoje vou te contar que me masturbei assistindo 'Pode contar comigo'...' e outras coisas que ela não gostaria que ninguém soubesse, mas ainda assim continuava escrevendo seu livro.

A meu modo; escrever.

Essa é a primeira vez que escrevo sem pensar em algo anteriormente, é... é porque sempre eu escrevo uma história baseada em algum fato que ocorreu comigo, um sonho, haaa! ... Tô escrevendo sem saber o que vem na próxima linha... é porque eu faço isso quando desenho... é... desenhar é diferente, basta um papel e algo que risque que eu me posiciono e vou dando forma, como tô fazendo agora, sem saber, escrevendo... escrevendo sem saber o que escrever.
Desculpa-me se ficar um texto redundante ou sem nexo. Ah! É difícil acompanhar meus pensamentos, sei que algumas coisas ficaram de fora. Eu consigo pensar duas ou mais coisas de vez, e eu sinto sair do meu cérebro vozes, minha, remixadas.
Agora mesmo eu parei uns cinco, seis, segundos pra pular para a próxima linha. Sinto que não vai ser o proposito inicial do texto, então encerro aqui.

Cuidado


Cuidado!
Para não acabar aí parada - sorrindo.
Tá chegando o final, então venha dançar....
Cuidado,
sua maquiagem pode borrar.
Agora vá e morra no espelho,
Caindo aos poucos.
Cuidado pra não ficar sozinha,
A felicidade é falsa,
e toda tristeza você carrega sempre.
Você é triste que fica feliz.
Plástica, frígida.
Cuidado.
Cuidado com você.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Interstício 02

Uma nuvem, uma casa, uma árvore, e um casal de bonecos palitos viviam no desenho riscado pela criança.
Um sol, uma chaminé, flores e frutas complementavam o espaço do papel da criança.
O amor dos bonecos, a felicidade da casa por abrigar uma família alegre, os animais que comiam o fruto daquela árvore, estavam ali... ali, entre o contato do grafite e do papel da criança.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Depoimento pós-carnaval - Parte II *

* nem me pergunte pela parte I !

Foi daí que eu descobrir porque tudo se acaba em cinzas.
Uma louca ia apagando seu cigarro quando falava do manguezal.
- O mangue daqui é tão lindo... imagine ali depois daqueles 'matos' tudo é podre... tudo lama...
E eu, eu ia escutando tudo, tudo em sonoridades de marchinhas de carnaval. Parecia ter saído de frente de uma grande caixa de som, e todo zunido de uma alegria falsa ia me desgastando.
A compulsão de escrever cartas, de viver na sombra, eu estava me sentindo um Deus pintando toda aquela tela linda, em tons de verde. Até que alguém admirando toda aquela beleza, passa-se a mão na tela, a tela que ainda tava de tinta fresca.
O manguezal guardava todas as cicatrizes da noite anterior, era fim de carnaval.
Agora só restava garrafas e copos plásticos amassados nas águas da tela
O mangue daqui parece feio, essas sujeiras, os esgotos, 'ali depois daqueles matos' tudo é limpo, águas limpas.
Todo mundo conhecia eu-manguezal dali do cais, ninguém nunca chegou ao verde com medo da lama.
Era a hora de tirarmos nossas fantasias.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Uma carta ao número 08041990-0031

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Meu caro desconhecido,

Há muito tempo não te escrevo, mas é apenas porque hoje eu possuo quatro mãos, o que me atrapalha ao te escrever.
Hoje eu decidir usar meu verdadeiro nome, e te falar que sinto saudade de tua falso-presença enquanto conversava comigo e só. O que foi mais dícil para mim, foi aprender a escrever uma carta para duas pessoas. Mas minha preguiça e minha falta de usura, me ensinou a gastar duas folhas.
Naquele dia que eu enterrei o amor na praia, junto com meus amigos, 'o amor que era representado por uma pedra vermelha que pouco me importa o nome' ao lado de cinzas de cigarro, eu estava engando. Estava enterrando uma pessoa viva, o que fez de mim um fraco.
Amigo desconhecido, me sinto fraco ao ter que abrir aquele túmulo, mas foi inevitavél, ou impossivél. Aquele sol, e o rivotril que molhou minhas calças, me deixou uma criança, como você. Eu poderia brincar de fazer castelinhos na areia, antes de enterrar nela minha felicidade.
Desculpa te perguntar tantas coisas em minha carta, e nem te da o direito de resposta. Mas com você, eu queria falar só de mim. Desculpe meu egoísmo.
Dias atrás eu escrevi um texto, e gostaria muito que você pudesse ler.
Queria poder te contar todas minhas mudanças, o acréscimo de alguns anos me amadureceu e levou algumas lembranças. Parei de tratar as pessoas com metáforas ainda utilizando pseudônimos.
Te espero. Venha assitir A Noiva Cadavér, você vai adorar a morte representada por cores.


Abraços,
de seu amigo Junior.

domingo, 20 de abril de 2008

Espelhos



O hoje morre todos os dias, e ficamos no velório com o passado.
Morremos a cada dia, e choramos. Somos viúvos do ego de ontem.
Morremos à noite, e reencarnamos em um corpo conhecido, em um ambiente maleável.
É a saudade de algo já gasto, morto.
Não podemos viajar, nem voltar pra casa, é algo dissolvido na ampulheta. Areia passada entre as mãos.
Todo sentimento de um pai egoísta, que tenta ver no traço do rosto de seu filho, uma única semelhança.
Dos traços de um espelho, vamos tentando ressuscitar nossas vidas.
E nos cortamos com os cacos, porque cansamos do amor recíproco. E sofrer é mais divertido e inesquecível que amar.
Não lembramos quando não caímos, porque faltam cicatrizes.
Hoje fizeram um corte com o espelho. Um corte na face.
Hoje me deparei em frente há um papel riscado.
Hoje te darei uma folha em branco.
Nosso dias podem ser livros de colorir com nossas cores preferidas.
Mas acabamos borrando.
Hoje iremos chorar por nossa morte, antes de dormir.
É que imitamos os filmes, e criamos essa idéia de flashes memoriais antes de morrer.
Ao acordar, levantaremos flexíveis.
E olharemos no espelho, uma cicatriz em nosso rosto.
Boa noite, eu.

domingo, 13 de abril de 2008

Para hippies, blogueiros e afins...

Desculpe galerinha que odeia tomar banho, eu sei que é chato, mas é que vocês não tem uma namoradinha pra cheirar todo dia e dizer: 'Hmmm... que menino cheiroso'.

Desculpa também à pessoas que escrevem poeminhas de amor em blogues, ' é que vocês também não tem uma namoradinha pra trocar cartas'.

Desculpem os erros gramaticais e a falta de criatividade.
nossomosloucosDorilú

terça-feira, 1 de abril de 2008

Ali, debruçados.

Ele já era homem feito, em corpo de menino. Sentia vergonha e receio em se demonstrar inteligente na frente dela.
Debruçados na cama, ele com a cabeça na areia ao lado de uma fogueira quente, ela no travesseiro de sexo.
Eram diferentes, mas por isso estavam ali. Essa diferença que os excitavam e os atraiam. Ele ainda menino, com seu caderno escolar na mão, e atividades a preencher, parado na página 125. Cento e vinte e cinco.
Era engraçado, mas ele tinha um espírito de cientistas, e gostava de descobrir. Enquanto ela, ela se arrumava no espelho, como uma mulher, uma mulher feita.
Ainda continuavam ali, debruçados na cama. Sem belas melodias ou roupa da sorte tudo ia ocorrendo. Mas esse desarrumado deixava tudo perfeito. Um cheiro, um aperto e beijos, continuavam na inércia, fazendo movimentos retos e curvilíneos. Era um par de luvas esquentando mãos frias.
A música começava a ser tocada, a cada movimento. Uma orquestra. Um parque.
Porque na realidade, os opostos não se atraem, porque opostos são iguais. Gostavam de artes, das mesmas músicas, e de um milhão de coisas em comum. Mas eram tão diferentes.
Ela escutava a quilômetros, e ele, menino-homem, apenas a um quarteirão.
- Tá escutando?!
- O quê?
- O trem...
- Mas aqui passa trem é?
- Perto daqui, no final da cidade. Escuta...
Ambos, já não estavam mais ali. Já tinham pegado o trem. Em direção oposta. O desembarque de um, era o ponto de partida do outro. Mas ambos estavam juntos. O cheiro no cabelo, o suor na boca, o gosto dos olhos. Ele já havia partido, mas ela continuava a colocar sua xícara na mesa.
Ali, ainda debruçados, ele se levantava vestia sua calça, e guardava seu segredo entre calça e cueca, uma de suas manias. Levantava dali ele, homem já feito, ela, menina feliz.
É que haviam trocado, despercebidos, algumas roupas, e um se vestia do outro. Uma calça-xadrez apertada, uma blusa.
Era apenas a hora do menino voltar pra casa, e fazer sua barba. Já que havia perdido o trem, que nem ao menos poderia escutar.
Era a hora, dela, mulher-menina, voltar para o espelho e retocar seu batom, que usou em uma de suas fronhas de travesseiro.
Ambos foram fortes, mas ele foi desacompanhado ao portão.
-
- Te amo.
- Obrigado!
- Obrigado pelo quê?!
- Por me amar...
- Olhe menino... isso foi a coisa mais fria que eu já ouvi.
- Eu também, escutei em um desses filmes nacionais...
- E eu em uma dessas historinhas de conto de fada.

Piolho!

Piolho. Talvez esse seja o primeiro e único ser vivo que habitou a minha cabeça. Piolho, com pê maiúsculo. Coça sua cabeça só de pronunciar esta palavra, né?! P I O L H O. O que muitos não sabem, é que o Piolho é como as formigas – fazem buracos, chegam até o cérebro.
O Piolho é podre, mas é burguês... Só gosta de cabeças limpas. Piolho é podre, mas odeia gente podre, e meninos maus não tem piolho. Lembro que em 1996 tive piolhos, mas já estou grande e podre demais para ter piolhos. Mas pelo menos um, pelo menos um Piolho ainda permanece vivo em meu cérebro.

Limpa, limpa vassourinha :)

Lavagem do Bonfim. Lavagem cerebral. Lavagem semanal. Lavagem de dinheiro.
Lavagem doméstica, lavagem corporal, lavagem espiritual, lavagem de pratos, lavagem anal, Lavagem da Praça do Boxexo, lavagem de roupas, lavagem espanhola, Lavagem da Rua Nova, lavagem capilar, lavagem vaginal, lavagem dos alimentos, lavagem de automóveis. Lavagem. Lavagem.

Já viu porque a água esta acabando?!
E o mundo ainda continua sujo.

Atirei o pau no gatô-tô.

Às seis horas saia de casa, ao som de Ave Maria, e corria para o campo. Menino perverso. Subia nas árvores, e destruía o lindo coro das cigarras. Com uma linha, das costuras de sua avó, amarrava a cigarra ao meio. Essa era sua brincadeira preferida. A cigarra, assustada, andava em círculos sobre a cabeça do menino, terminava a brincadeira até ficar tonto, o menino ou a cigarra, que muitas vezes caia morta ao chão. Ás vezes, a brincadeira era interrompida por sua mãe, que mandava o menino entrar, porque o céu já não estava mais laranja.
Era Quaresma. E mesmo esse clima nostálgico e cristão, não fazia com que o menino parasse de deixá-las tontas. O mundo era um círculo, seus olhos eram uns círculos, e isso o deixava tonto. Nada de rebeldia sem causa, era malvado por natureza. Matar formigas, queimadas com borro de vela já não o satisfazia mais. A Cigarra foi seu prêmio. Péssimas cantoras, dizia ele, ainda temos que subir no alto pra apanhá-las. Você sabe como é difícil pegar uma cigarra e amarra-la? Você sabe como é difícil acompanhar todo seu movimento, em círculo, em volta de sua cabeça?! Deixa qualquer um tonto.
Amarrar cigarras, e mata-las, virou uma compulsão do menino. Quando voltava da escola, e tirava sua farda, o menino saia correndo pelo campo com uma linha na mão.
Subir. Pegar. Amarrar. Pronto! O resto do espetáculo era por conta da cigarra.
Isso se repetiu por inúmeras semanas.
Até que ele ficou tonto, e cansado de ver uma cigarra, idiota, andar em círculos em desespero. Com a mesma cara de decepcionado, quando percebeu quantas queimaduras teve no dedo, queimando caminho de formigas na parede da cozinha.
Agora ele queria um bicho muito maior, e mais difícil de machucar, um gato, um cachorro talvez. Mas homem não! Homem só basta palavrinhas para machucar, e isso era fácil demais para o menino.

Interstício 01

Nenhum corpo fica ligado totalmente ao outro. Existe sempre um espaço vago, no vácuo, sem sentimentos, sem cheiro. O vazio vai se demonstrando muito mais vago.
Nem nosso corpo é totalmente ligado a alma.
É capaz de se passar vida até na mão mais fechada.
Entre um texto e outro, existe aqui.
O interstício das letras.
Havia vida em cada entrelinha. Espera aê! Mas não era vazio?!

domingo, 30 de março de 2008

O diário de Heida

Bom, eu e Gina vamos começar a escrever em um blogue, a história de Haida (se pronuncia Heida vúh!) é como se fosse um diário, cheio de pseudônimos e nada pessoal, batido Alice no país das maravilhas com algumas bolinhas farmacêuticas. Quem quiser visitar clica na imagem abaixo, e abaixo dessa imagem tem o primeiro texto que eu postei lá...

A casa da Rua 4

Morava ele ali, acompanhado de seus livros e animais selvagens, era a única coisa que sabíamos do Homem da Rua 4.
O dia estava laranja, e eu mais laranja ainda, enquanto caminhava junto a Haida. Olhavam a casa, casa morta, como um pão criando mofo. Era difícil, nós imaginarmos como alguém conseguiria viver ali, trancafiado, vítima do tédio da monotonia solitária. Haida não conseguia solidão nem no choro.
Talvez o Homem havia se isolado porque alguém, aqui ,o machucou muito. Ou ele mesmo tomou uma queda enquanto tentava voar, como de praxe.
Haida e eu tratavam aquela casa como um outro mundo, criaramos o 'lá' e o 'aqui'. Ninguém jamais soubera o que existia dentro daquela casa - - além de um homem solitário, livros, gatos, e um $ no jardim. Eu ia contando cada detalhe da casa da Rua 4, enquanto os olhos de Haida brilhavam, como uma criança na porta de uma bomboniere a ponto de devorar todos os doces, ela queria saber daquilo tudo.
- E esse símbolo de dinheiro no jardim? Perguntava ela olhando por entre as pequenas grades que davam oxigênio aquela casa.
- Na verdade é um ‘s’, ele se chama Silvio.
- O homem da casa da rua 4 se chama Silvio? Indagava Haida, com sua mania de transformar respostas em perguntas, como uma máquina precisando de códigos de confirmação. Era mais uma chance de ter certeza do que havia escutado, já que sempre foi enganada. Assim, criou este anticorpo. Fazendo com que cada pergunta fosse re-dirigida e confirmada por um ‘sim’ ou ‘não’... sim ou não, aqui e lá...
- Sim, ele se chama Silvio.
A luz laranja do sol, dava espaço para as luzes dos postes, também alaranjadas. Aquela casa não era suja. Apenas escura, o muro evitava a luz. Muros construídos para evitar toda ilusão que o Homem, homem que agora tinha um nome, passou aqui. Agora ele sofria só, ou apenas o que nos imaginávamos, enquanto observávamos daqui. Ninguém consegue viver feliz com barreiras, e o homem havia criado as suas próprias. De repente, do último quarto da casa, foi possível ver uma luz que se locomovia junto a uma sombra.
- Olha, ele esta acordado!
Estava frase soava como ‘olha, ele esta vivo’, foi o que eu li nos olhos de Haida. Vivo no seu mundo. Mundo limitado por quatro paredes. Ficamos alguns minutos ali na porta do Homem, imaginando como seria por dentro aquela casa de telhados japonês, como seria Silvio, como seria por dentro aquele homem. estávamos soprando vida dentro de uma casa morta, estávamos ganhado novas vidas, e adquirindo os mofos da casa.
Eu estava brilhando, procurando em cada interstício uma beleza para a solidão.
E Haida, inevitavelmente, havia vestido um pouco daquela casa. Estava fechada. Havia criado sem si, seu próprio mundo, com histórias onde os personagens tinham um pseudônimo, ‘O fantástico mundo de Haida’ era um corpo de 60 kg, pálido e cheio de cólera. Ninguém jamais soubera o que se passava por dentro dela, além de um coração e um estômago para engolir suas pílulas de sonho antinômico.