Por lá já deve ser 4:21 da madrugada, aqui eu ainda continuo acordado –
hoje meu medo é tão concreto que vejo a vida como uma simples epiderme cobrindo
nossos traumas. Este é meu último gole antes de ir à casa, e quando se sabe a última
dose pra voltar, o álcool simplesmente é um sonífero tardio. Em mim não houve
resultado. Antes de levantar, tirei uma casca dessa camada grossa que não
inventamos palavra para descrever e tentei seguir. Ser adulto para mim é algo tão infantil que aproveito o privilégio de
ser. Agora eu tenho esta válvula: ser adulto. Beber, sair com os amigos, não
ter horário em voltar, me proteger... O ultimo gole desce quente, talvez tenha
propositalmente demorado nas doses, mas levo a punição do copo quente. E quando
este líquido quente atravessa minha garganta, fecho os olhos e nada mais sou do
que memória. Herdei de minha família materna a mania de rezar antes de dormir,
mas rezo fazendo regressões que finalizam em uma ordem cronológica no futuro;
estarei dormindo as 4:21?.
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