domingo, 7 de abril de 2013

fim de tarde


Chegaram em casa exaustos. Ela veio o caminho todo rindo, feliz, como sempre se manteve. Ele abriu a porta e a deixou tirar a água do mar primeiro, enquanto ele cozinhava uma sopa para o jantar. Os pés molhados só traziam para a sala um pouco da praia e da denúncia daquela tarde. Estiveram lá e tudo foi real.

Teresa saiu do banheiro com um roupão rosa enquanto secava seu cabelo com uma toalha branca. Só agora Jonas havia reparado que o sol veio se prolongar na pele dela, e aquela cor ressaltava o verde dos olhos daquela mulher que um dia ele amou. Essa era a diferença entre eles; Teresa carregava a natureza, Jonas não tinha espaço nem para o humano.

- Fiz sopa, gosta? Posso servir.

- Sim, quero provar como você se sai na cozinha. Lembra na faculdade que você sempre deixava o arroz queimar? Teresa riu, mas não pra ferir. Falar do passado não é ofensa, é saudade. Manteve o riso no rosto e os olhos no prato vazio.

- Sabe, Jonas? Estou começando a pintar. Vejo a cada dia que a pintura é superior a literatura, sabe? Sei que vai me achar ingênua, e que no futuro eu possa mudar de ideia… Também é isso, não tenho mais medo do temporário. As palavras parecem que já não são minhas, sabe? Lemos demais quando mais jovens... E cada cor, para mim, parece uma descoberta… As formas são verdadeiramente minhas.

Jonas manteve-se calado, serviu a sopa em dois pratos e sentou-se. Recriminou-a, pedante. Diminuir a literatura era a pior das ofensas. Já não tinha mais o seu meio.

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