terça-feira, 1 de abril de 2008

Atirei o pau no gatô-tô.

Às seis horas saia de casa, ao som de Ave Maria, e corria para o campo. Menino perverso. Subia nas árvores, e destruía o lindo coro das cigarras. Com uma linha, das costuras de sua avó, amarrava a cigarra ao meio. Essa era sua brincadeira preferida. A cigarra, assustada, andava em círculos sobre a cabeça do menino, terminava a brincadeira até ficar tonto, o menino ou a cigarra, que muitas vezes caia morta ao chão. Ás vezes, a brincadeira era interrompida por sua mãe, que mandava o menino entrar, porque o céu já não estava mais laranja.
Era Quaresma. E mesmo esse clima nostálgico e cristão, não fazia com que o menino parasse de deixá-las tontas. O mundo era um círculo, seus olhos eram uns círculos, e isso o deixava tonto. Nada de rebeldia sem causa, era malvado por natureza. Matar formigas, queimadas com borro de vela já não o satisfazia mais. A Cigarra foi seu prêmio. Péssimas cantoras, dizia ele, ainda temos que subir no alto pra apanhá-las. Você sabe como é difícil pegar uma cigarra e amarra-la? Você sabe como é difícil acompanhar todo seu movimento, em círculo, em volta de sua cabeça?! Deixa qualquer um tonto.
Amarrar cigarras, e mata-las, virou uma compulsão do menino. Quando voltava da escola, e tirava sua farda, o menino saia correndo pelo campo com uma linha na mão.
Subir. Pegar. Amarrar. Pronto! O resto do espetáculo era por conta da cigarra.
Isso se repetiu por inúmeras semanas.
Até que ele ficou tonto, e cansado de ver uma cigarra, idiota, andar em círculos em desespero. Com a mesma cara de decepcionado, quando percebeu quantas queimaduras teve no dedo, queimando caminho de formigas na parede da cozinha.
Agora ele queria um bicho muito maior, e mais difícil de machucar, um gato, um cachorro talvez. Mas homem não! Homem só basta palavrinhas para machucar, e isso era fácil demais para o menino.

Nenhum comentário: